Ousadia
Eu amo apaixonadamente, amo com os pés fincados no chão
Entre a realidade e a fantasia estou amor, sou amor
Deixo-me ser levada pela onda e agarro ramos nas margens
Quero ir e me deixo ficar à beira deste rio desconhecido
Quero voar, mas do galho da árvore olho para bem longe daqui
Eu que já previ e comprovei tantos destinos estou assustada
Eu que já me esparramei receio não conseguir reunir-me mais
Há um cansaço tão intenso que corrói e consome meu querer
Há um desejo profundo e tatuado na minha alma dizendo:-Vá!
A vida deve ser vivida, sorvida, esgotada até a última gota
Mesmo que haja o receio querendo ser inquilino do meu eu, vou
Solto minhas mãos dos ramos, salto do galho, despeço-me do medo
Sei voar, sei nadar... Se o voo for demasiadamente longo, aterrisso
Se o rio é uma parte de outro rio maior que chegará ao mar, sei boiar
Não dá para eu fingir para mim que sobreviver me completa e me alenta
Necessito que meu sangue circule percorrendo todo meu corpo
Preciso demais do ar inflando meu peito, que mesmo ferido é teimoso
Quero o que me cabe, ainda que aterrorizador até que a vida seja finda
Depois de tudo não sei, nem sei o que é tudo e menos ainda do depois
Vou ali nadar, vou voar; estou embarcando no meu hidroavião reluzente
O meu transporte é resplandecente de ferrugens porque o uso e ouso
Vou me atrever a ser feliz pelo tempo que a felicidade existir