Você e eu
Você e eu ouvimos a mesma cigarra, na mesma mangueira. O mesmo caminho. Viemos da mesma vontade, da mesma cidade, dos mesmos fazeres e contos, como da rua de Matacavalos, Bento e Capitu. Soubemos do mesmo sorriso, e mesmo sem sabê-los, saberíamos ri-los, oras. Você e eu, dos olhos escorregadiços, das bocas já sorridas nos versos cá escritos que arrancaram lascas dos cangotes d’alma. Você e eu, dos quereres sortidos, que quão mais cores fores, mais cor parecias me vir. Você e eu, vento de improviso que me gasta a pele, curra de arrepios. Mas como Bento, vias ciúmes nas linhas; de pasmar: nas entrelinhas! Foi aí que nos quedamos tortos, não como paus, que já nascidos tortos, cabem tortos por costume e pronto. Quedamos assim, como Allen se perdera o uivo, como a quimera que cansou-se à espera, como planície que tão ama a serra. E sei, e como sei, que vou a soar arrogante, e que por mais que me descambe a todo instante, comparar-te-ei por sempre, poesia.