Encontro

Flores transmutadas em neon, sobre uma superfície branca.

Ela ainda não chegou… e meus braços tremem. Decoro uma insignificância desnuda, procurando respostas na paisagem, uma inspiração pouco intensa. A raiz é forte, mesmo que o olhar capture fragilidade. Acima de minha cabeça, a metafórica representação das emoções humanas. Ramos dançam, rodopiando, centenas de ambiguidades. Tristeza, luto e esperança. As folhas sussurram. Esse lugar... Deus costuma vir aqui?

Ela ainda não chegou, vagando pelo acaso através do cotidiano. O ar está frio e cheio de luz, como partículas de diamante. E atravessando-o, ela chegará…

Vidas codificadas.

O quanto sofrem? O quanto suportam sofrer? E retornam exaustas da plena confiança na busca entediante pela felicidade. E elas morrem… e deixam para trás aquilo com que aprenderam a se conformar. É tão… real.

Mas hoje, nenhum desses estranhos me atrai para sua marcha.

A paixão me torna impetuoso, o amor engana o faro dos leões.

Silêncio, demagogia.

Ela têm algo especial. "Ela têm algo especial".

Não é estética, é sua áurea de finas camadas e diferentes texturas. Uma estrangeira colonizando inoportunas dúvidas. O modo como minha anatomia reage… sou apenas uma tela de display arranhada. Você é a vogal em cada uma de minhas palavras.

E… lá vem você!

O que eu dizia mesmo?

... Meus olhos agora são de porcelana. Fica tão explícita a necessidade da incessante repetição. Meus dedos tremem. Sinto os espinhos da flor, sua beleza me atravessa como aço.

Você é pó. Uma combinação orgânica fadada à decomposição e ao inevitável sono com que a natureza camufla o esquecimento. Todos os dias alguém "vê" você e tão logo ignoram. O que me difere dessas pessoas é que não sou diferente delas enquanto a observo, inesquecível.

Os momentos ficam.

E mesmo nosso sonho de uma vida próspera e feliz repousará esquecido no DNA daqueles que sequer saberão que existimos. Os filhos dos netos dos bisnetos de nossos netos.

Há muito inertes no outro lado do arco-íris.

O tempo se nutre de nossos momentos. Enquanto você caminha em minha direção, estou no futuro lendo essas palavras, no passado escrevendo-as, no presente vivendo-as.

Fica comigo…?

Dançando nas contantes num mar de variáveis.

Amantes do tempo, o tempo todo… enquanto houver.