Ser ou não ser

E me pergunto

das causas dos conflitos:

seríamos, assim,

tão diferentes na essência,

astutos ou simplórios,

bondosos ou maléficos,

crentes ou ateus,

racionais ou emotivos,

comandantes ou comandados,

seguros ou claudicantes,

heróis ou covardes,

acorrentados ou livres,

mocinho ou bandido...

E me vejo crente,

como criatura,

que as sementes nos foram dadas,

todas elas

e a cada um compete

fazê-las desenvolver, desabrochar...

Como?

Através do conhecimento.

Quando?

De preferência quando se descobre

que se é pessoa.

Onde?

Em qualquer lugar do infinito.

Por que?

Porque a vida pede

e você tem todo o direito

de dizer sim ou não a ela

e a si mesmo.

E por que

alguns brilham,

conquistam um lugar ao sol,

resolvem pacificamente os conflitos,

vencem seus próprios medos,

escancaram-se à verdade,

discutem suas idéias

e realizam-se

enquanto outros permanecem

na eterna busca do descobrir-se

sem nada mudar,

ensimesmados na auto-suficiência,

enclausurados na sua própria visão,

preocupados apenas consigo mesmo,

certos de que

o "ser" é conseqüência do "ter"

e que o maior valor

está em receber?

Comportam-se tal qual caramujo,

limitando seu espaço

nos centímetros da sua casca.

Ah! Quanto engano!

Almejam o brilho do poder,

as glórias do comando,

os aplausos e ovações forçadas,

as medalhas na lapela...

Desconhecem

que o poder é efêmero

ou contentam-se

em ter a glória

apenas por um dia?

Então me vejo pensando

nos vultos de toda a História,

aqueles que permaceram

e deram de si o melhor,

certamente porque

não se preocuparam consigo mesmo,

mas serviram a algo ou alguém.

Não agiram porque tinham um nome

mas porque conquistaram o seu espaço,

não desembainharam a espada

mas foram capazes

de impor sem ela,

porque detinham o conhecimento

do fato, das causas e conseqüências

e de cada um dos envolvidos.

Acima de tudo,

porque não lhes foi conferida

a força do poder,

mas a sua razão.

Então, não impuseram a sua força,

não lhe denegaram o poder.

Este foi conquistado

quando se tornou autor, autoridade.

Vejo-me toda envolvida

pelas sábias palavras

da Dama Inglesa:

"Se tiver que lembrar às pessoas

que você é,

você não é"...

Cleide Canton
Enviado por Cleide Canton em 14/10/2005
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