O RELÓGIO E MONET

     Pendurei o relógio na parede que separa a sala do hall de entrada da casa. Olhando o relógio avisto a porta que poderia ser de entrada, mas, no meu imaginário de menino, é sempre a porta de saída. Por ela partirás eternamente, até que o maior amor do mundo, que é o meu, te detenha.
     Cada vez que sais pela porta vejo o relógio marcando a hora da partida.
     É mudo, surdo, exato e insensível o relógio que marca todas as horas que partes.
     E partes e partes, como o trem da Gare de Monet. Sei que ele viu o trem chegando, mas eu não consigo. Estou sempre por trás da visão do quadro, olhando o trem partir através das fumaças que me souberam enevoar as partidas todas desse tempo.
     O relógio e Monet.
     A estação que fala de chegadas e o relógio que marca horas de partidas.
     Contesto Monet: falta um relógio marcando a hora de chegada do trem.