Prelúdio de uma flor
A noite enegrecera as águas que fluíam para nunca mais voltar, pairando sobre elas a lua nua de sua luz, cintilava prateada e fosca nos olhos contemplativos de um futuro incerto, bem certo seria não duvidar da candência melódica de sua correnteza quebrando o silêncio da escuridão, uma mão a segurar a caneta descansando sobre o papel manchado de uma tristeza líquida, filha da tempestade que à tarde derramara do céu, rasgara o véu de todos os sentidos e o corpo era nova novidade da respiração próxima e perigosamente relembrada constantemente... mente quem diz que não carrega consigo os afetos da alma, a calma esmaece ligeira e abandona toda sanidade e a vontade vai tecendo seu ninho nas brechas do corpo, nas linhas sanguíneas a alimentar aceleradamente o batimento do órgão maior a desatar o nó que nos prende a razão... o chão que se pisa com as verdades em idades de inocência, ciência da inoportuna crença da paz e já não há cais ou que se esperar...
O dia lambera das águas a noite que espelhava a lua, intensa claridade crua, feito carne violentada pelos acoites dos raios de sol, nenhum nó ataria o que deixara de ser, com o que seria a partir de então, não em vão, teria sugado a derradeira alma de um desesperado e então roubado da vida a centelha que incendiaria os ermos campos da solidão... sua mão adormecida sobre o mesmo papel, experimentou o fel da lágrima seca amargando a garganta com os resquícios do último gole que invadira a boca a procura do que à sua frente já se encontrava... por entre os arbustos de seu pensamento, vazava a luz como se fosse pontos luminosos acordando os olhos para a imagem dela, incrédulo diante da mão do amanhã estendida e ameaçando agarra-lo, deixou-se levar pelo o que viria a ser e entender que nada compreenderia, antes que se dissipasse a cegueira advinda da luz que lhe amanhecia...
As horas desnudara o tempo feito folhas levadas ao vento e nessa nudez se fez olhos claros para o devir de águas que o afogaria prazerosamente nos braços dela... sem tempo que os separassem, enlaçaram-se como o perfume à flor e o cheiro adocicado à pele e jamais voltaria a privar-se de seu calor... a mão calejada de palavras tristes, escrevera felicidade com tintas saudade a desdenhar a liberdade de estar só e, um rouxinol cantou a todos os pássaros a mesma felicidade, estranha bondade da distância que nos aproxima...
Então, noite, dia e tempo, misturaram-se em seu pensamento, como um fermento indispensável ao pão, e divisou em suas mãos o seu próprio coração junto ao dela, era ela o sonho de todas àquelas tardes, era ela aquela manhã de branca tez pesando em brumas sob as flores... era ela o cheiro do todos os amores adentrando as suas narinas, invadindo lhe completa e indiscretamente os recantos mais profundos de seus desejos... selando lhe à chegada com um beijo... erguendo da água enegrecida, a lua em seu corpo nua, vestindo-se de dia em tempos de mar em meu peito... e o nosso amor calara o tempo, quando de minha boca lhe disse... amor... eu Te Amo...