Como Seria sem a Certeza do fim...

Ainda não nasceu o que dirá aquilo que sou, estou no zero a zero. De mim ventila ventos dos quatro cantos cardiais; remetem o recado velado de que não é por aí a curvatura da flecha, o acerto da pontaria no alvo.

Afugento o quarteto dizendo que mantenho as mãos e os dedos na posição de sempre. Acarinho com a mente algodoada o nada, junto, ofereço flores àquele que nominei como "meu senhor", a quem peço guarida e respaldo . Tudo para alcançar o instante sem a limitação do tempo e do espaço.

Quero assistir meu próprio parto, perder a subordinação inarredável com a forma. À partir deste ato revelador, ambicionaria abrir mão da condição de cega de antes, habilitaria, se assim existisse, à posição da mais nova nascitura na seara da não identificação.

Vislumbro conquistar a condição dita pelo poeta místico, reluzir minha verdadeira face a qualquer instante, chego a descontruir toda estratégia quando sinto o cheiro do "faz de conta" que isso passa exalar. Poderia me oferecer à vida despreendidamente sem os grilhões que a morte impõe, como a presa e o predador, ela me segue lembrando minha finitude.

Percorro caminho que cheira o mato fresco de floresta inabitada. Chama o instinto da curiosidade aventuresca. Pede o aceitar do desafio de perder a expectativa quanto ao "como será" do pós morte, abandonar o medo, sintoma da alma no imaginar o desfecho final, queda do corpo, fim do escudo dos sentidos.

Sabe lá como seria tornar indiferente com o que virá quando o tamborear do coração findar. Liberdade suprema em vida.

Márcia Maria Anaga
Enviado por Márcia Maria Anaga em 08/04/2017
Código do texto: T5964953
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