Medos permanentes

Às vezes, é preciso um canto seguro. Sofrimento latente. Um mergulho no escuro.

Silenciosamente.

Uma vontade inocente. Desesperada. De me sentir só. Só isso, às vezes acalma um medo. Um medo profundo.

E, de repente, eu me encontro. Reconheço-me. No isolamento. Sozinha num canto seguro, eu esqueço. Do que me cerca: a multidão. O conforto é a solidão.

Só ela. Calma. Leve. Serena.

Eu gosto daqui. Desse lugar aqui agora. Desse Café de livraria. Do café quente. Do frio que faz. Do outono num Rio cinza.

Um vento frio, lá fora. Aqui dentro, aquecido. Cheiro de livros. Meu café. Quente. Meu casaco de lã. O meu canto seguro.

Penso sobre a vida. Penso sobre a morte. Penso sobre mim. Penso sobre os outros.

Penso sobre pensar. Penso sobre não pensar em nada.

Eu gosto da música que toca. Eu gosto do silêncio das pessoas sós, ao meu redor. Eu gosto dos livros que nos cercam. Do dia nublado.

E na minha solidão silenciosa. Ainda há barulho. Barulho bem aqui dentro. Aqui, dentro de mim.

Meus medos. Meus sonhos. Meus anseios. Eles gritam, aqui dentro. E, agora, estou só. Só com eles.

Todos eles.

Eu tenho mil medos. Eu tenho tristezas que não me abandonam. E tristezas que não quero abrir mão. Eu tenho tudo. E tenho nada.

Enquanto eu escrevo, eles permanecem. Bebo meu café, eles continuam. Eu leio meu livro, e eles ainda estão. Meus medos. Moram aqui. Aqui comigo. Em mim. Residência fixa. Eles não saem.

Mas eu já sei. Você também sabe. Que é preciso ter coragem, apesar disso. Então aí está. Finalmente, aí está o encontro com a realidade. Eu guardo os medos. Dentro, bem lá dentro.

Eu visto-me de coragem, e enfrento os dias. Dias a mais. Dias iguais. Até que um deles, será o último.

E eu não sei se depois disso, será paz. Você também não sabe.