A Última Rosa
      Não lhe foi colocada no cabelo, nem  adornava aquele jarro de Veneza que tinha no criado mudo de seu quarto. Não sei por que não era vermelha, pois em vida teve paixão e muita paixão por um amor tão difícil, mas tão verdadeiro. Era criatura de semblante triste, de alma conformada. Conformada com a vida que lhe impusera muitos desenganos. Canalizava seu amor para os animais. Com ele e para eles vivia. Buscava neles a pureza e a fidelidade que não encontrara nos homens.
       Vez por outra sorria ao assistir musicais do velho cinema clássico. Era seu momento de prazer. Reportava-se assim, para sua juventude que ficara distante mas que lhe trazia o alento de que lá havia encontrado o verdadeiro amor que um dia a fez muito e muito feliz. Fuga no tempo e no espaço. Mas disso gostava de recordar.
       Tinha prazer em escrever. Gostava de colocar emoção no papel. Temática fácil de ser compreendida: amor, frustração e esperança. Mantinha apesar de desiludida, a candura de esperar, porque existia para esperar. Sempre e muito. Além do limite que um ser espera em vida. Transcenderia um dia, alcançando um mundo  que sempre imaginara, o do encontro e assim se libertasse da dor. Fez uma viagem longa ao encontro de outras almas e daquela que em vida foi o seu único amor.
       A última rosa foi pousada em seu colo. O semblante estava tranquilo. Parecia aprovar a cor branca da rosa Estava em paz.  Não sei se a  a viagem foi solitária. Quem a teria recebido naquele final? O mistério perdura e se torna mais misterioso à medida que o tempo passa. Tempo é convenção dos homens, não tem como retroceder, mas nos tortura quando nossos pensamentos buscam alguém que não mais faz parte desse mundo, mas que deixou marcas de luta e esperança . E a saudade a tudo isso acompanha, principalmente para aqueles que lhe souberam compreeder em vida.
Vilma Tavares
Enviado por Vilma Tavares em 07/04/2017
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