Resquícios de uma guerra
Um dia, lá atrás, fecharam as portas, fecharam os olhos, as bocas, reinou o silêncio, a solidão escancarando o medo. Nos templos pararam as palmas, e murmúrios se perderam nas multidões. Era o início da luta, onde os homens calados feriam-se com gritos metálicos e gases impossíveis.
Nas paredes pingavam estilhaços e nos braços pingava sangue; corpos mutilados, carbonizados, dilacerados pelas mãos, carrascos da tecnologia e da ciência. Nesse dia as crianças tornaram-se velhas e os velhos tornaram-se orações.
O céu se toldava de luzes rápidas, e a terra se cobria de destruição. Formas ambulantes vestiam preces; e vestiam armas e fogo e tinham a carne maltratada, a querer amor e ter somente, som e corte, suor e dor. Roupas rasgavam-se escandalosas e a pele nua sofria o frio do desespero; era violentada; o sexo violado, o rosto espancado, após o ato sujo, entre os seios, uma lâmina vibrava. O grito era assombroso, acordando as vozes caladas.
Finalmente após dias e anos e sonhos. As portas se abriram, as mãos se tocaram, as bocas falaram e se beijaram. O armistício se calou; alguns olhos viram, milhares nem sequer se moveram, estirados no chão. E os sexos, continuaram nus e violados, embaixo à um pouquinho de terra e areia; e, entre os seios permanecia aberta a porta por onde a vida passara.