Ao avô

Era suave o balbuciar daquela manhã. As árvores meigamente ditavam seu canto fúnebre em comoção a sua recente perda outonal. O velhinho dos óculos arredondados, que impreterivelmente passa sob aquela árvore todos os dias em companhia do seu cão, fez-me, especialmente no dia em que as folhas caíam tão lentas e melancólicas, derramar uma ou duas lágrimas em lembrança do meu avô. Uma dor aprazível passou pelo meu corpo – doeu a saudade –, doeu lembrar que nunca mais lerei um jornal com as palavras-cruzadas já feitas. Peguei-me sorrindo através da dor.

São bons os dias em que o sofrimento não machuca – enquanto as folhas mortas balançam e findam pelo intento do vento, e enquanto minha memória estiver sã para lembrar de um velhinho que apontava meus lápis com seu canivete, estarei em paz com a morte. Os fatos da vida, narrados por frases ambíguas e pessimistas através de causos - que nos causavam muitas risadas -, foi um aprendizado bem humorado sobre as dores e desgraças. Era bom rir da nossa perene infelicidade. Hoje rio sozinha.