Ao piano

Preciso grafar no manuscrito mesmo,

enquanto ainda sinto latente no corpo:

Teu gosto.

Teu cheiro.

Teu tato.

Preciso captar

nossa essência tão infrequente,

tal qual no O Perfume,

enquanto o Amor ainda se faz quente.

Sinto a libido no entremeio dos meus lábios.

Na rouquidão no meu ouvido.

No arfar no meu pescoço.

É dele que eu preciso!

Na ânsia de registrar o momento,

receio que as letras se prostrem.

Minha alma tem pressa, como disse o poeta,

pois eu também tenho poucas cerejas na bacia.

Anseio escrever tudo,

porém na verdade não posso revelar nada.

O biógrafo reconheceria seu cheiro,

ao abrir os gomos dos poemas que eu traço.

Suspiro.

Fecho os olhos.

O som do piano ecoa pela casa:

Pachelbel - Canon in D.

A mente divaga...

Posso segredar que vi vestígios

de amor em teus braços?

A mim por ora basta!

E eu que amanhecia e anoitecia

correndo atrás de compromissos,

há tempos penso apenas numa maneira,

num único modo,

de encontrar uma faísca de desejo

também nos teus olhos.

Por que o tempo passa...

Railda
Enviado por Railda em 05/04/2017
Código do texto: T5962368
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