Pauta da vida
Prevejo escrever enquanto ainda sinto latente no corpo:
Teu gosto.
Teu cheiro.
Teu tato.
Preciso captar a essência do encontro enquanto ainda tenho a líbido.
No entremeio dos meus lábios.
Sua voz no meu ouvido.
O arfar no meu pescoço.
Na ânsia de perder os sentidos eu digito rápido tal qual um telégrafo,
com receio de que as palavras voltem para a Caixa de Pandora.
Minha alma tem pressa, como disse o poeta
e eu também tenho poucas cerejas na bacia.
Anseio escrever tudo e na verdade não posso revelar quase nada,
reconheceriam sua sombra no meu caminho por onde eu passo.
Suspiro.
Fecho os olhos.
O som do piano ecoa pela casa.
Posso segredar que vi vestígios de amor em teus braços?
A mim por ora basta!
E eu que amanhecia e anoitecia correndo atrás de compromissos,
há tempos penso apenas numa maneira,
num único modo,
de encontrar uma faísca de desejo também nos teus olhos.
Por que o tempo passa...
Se as notas não se conheciam e fizeram a quatro mãos a melodia,
quem sabe seremos um refrão na pauta da vida?