Planeta Terra (Berço)
Eu vejo as horas te amarem, ingênuas, leves, sonoras, te apertam contra o peito nu e te beijam arrancando-lhe desejos... Teus horizontes roçam as nuvens excitando-as e elas chovem lentamente, às vezes trêmulas. Teus mares masturbam com a nudez de sereias e corais e os náufragos se perdem nesse orgasmo de pureza infinda e ainda se tocam e se amam e partem...
As cidades são luzes e viagens, muralhas de sentimentos desconhecidos; além delas, existem desertos, nômades e lamentos e escritas; além da dor, existem espectadores, mas teus caminhos, é perseguição, é poema, é canção... Tua vida é o vento, o som, o ar, a luz, o dia e a noite; as criações a pisar-te e a transformar-te incessantemente; é como o delírio na pauta que o cego tem a frente; como o fogo incendiando teus cabelos verdes, que te dão força e te dão fé e te fazem amor...
Há no teu corpo veias que irrigam corações e fazem multidões; e de vez em quando as dispersam, separam-nas, mas nunca as esquecem; veias que banham peles morenas, loiras, vermelhas, raças virgens, e teus olhos são safiras e rubis, esmeraldas, pedras milenares e estelares, onde os anos sonham novos homens e dormem cansados, no colo das mesmas mulheres...
Tua vida é teu corpo imortal, o roçar de cantigas e crianças, dentro do teu ventre sempre “grávido”, homens, mulheres e animais... E o sono, o sonho e o berço em que Deus te balança e acalenta...