A Voz Retumba!
A Voz Retumba!
A tarde caiu. Volto para a anamnese de sempre, entrevista feita a eu mesma no “toucador”. Concluo (não diferente que das outras vezes), que esta vida se revela no entrelaçamento dos acontecimentos, amontoado dos reflexos, meus e dos outros, clarões sem faces, sem visão certa e definida do desfecho.
Fragmentar as ações e os resultados do que é meu e do outro torna “pecado mortal”, prática que distancia das benesses que a intuição trás de bandeja; ela trabalha à solta, criança rebelde que não se permite aterrar aqui, não prejulga, sentencia, nem apresenta o resultado da prova antecipadamente. A amiga sugere no silêncio dos dias que depende do afrouxar das amarras no anoitecer, mesmo que amanhã tenha que atá-las novamente para a batalha, uma a uma.
Pressinto que o espírito da qual movimenta o corpo físico que me torna identificada, não gosta da matemática fria dos acontecimentos, que insistem se manterem como fossem reais, onde os resultados nem sempre favorecem.
O que levamos a boca passou não merecer credibilidade, a desconfiança reina entre os iguais, a cultura do medo, da violência e da injustiça virou moda. Mesmo assim, o cálice que ingeri das desventuras no viver e conviver, que embriaga o juízo induzindo à ressaca para a angústia se realizar na “morada do pai”, é tomado pela grande voz definidora das águas aqui dentro, determina a não digeri-lo. Fica tudo à parte. Poderá ter utilidade caso eu deixe o indigesto no aguardo da fermentação, se transformar no elixir para alma, que no futuro próximo utilizará como remédio.
O móvel que me mantém tem sede da paz, aquela que indica existir no âmago de todo espetáculo que é a vida. Por isso, apesar dos pesares, as noites nunca foram as mesmas, sorrir nunca caiu de moda, nem a esperança deixou de ser meio para acalentar o desespero.
Ao que tudo indica, o sol aparecerá no horizonte amanhã, nossos olhos abrirão! E a vida continuará.