OUTRAS PRECIOSIDADES (62)
AS BORDADEIRAS DE ISLA NEGRA
Em Isla Negra tudo floresce. Durante o inverno
arrastam-se pequeninas flores amarelas, que em
seguida se tornam azuis, e mais tarde, com a
primavera, adquirem uma cor de amaranto. O mar
floresce o ano todo. Sua rosa é branca. As suas
pétalas são estrelas de sal.
No último iinverno começaram a florescer as
bordadeiras de Isla Negra. Cada casa minha bem
conhecida havia trinta anos exibiu um bordado
como uma flor. Antes aquelas casas eram escuras
e silenciosas; de repente encheram-se de fios
coloridos, de celestial inocência, de uma profundi-
dade violeta, de vermelha claridade. As bordadeiras
eram o povo em estado puro e por isso bordaram
com a cor do coração. Chamam-se Mercedes, a
senhora de José Luis, chamam-se Eufemia, chamam-
-se Edulia, Pura, Adela, Adelaida. Chamam-se como
se chama o povo: como devem chamar-se. Têm
nomes de flores, se é que as flores escolhem seus
nomes. E elas bordam com seus nomes, com as
cores puras da terra, com o sol e a água, com a
primavera.
Nada mais belo que esses bordados em sua
pureza, radiantes de uma alegria que se sobrepôs
a muitos sofrimentos.
É com orgulho que apresento as bordadeiras de
Isla Negra. Elas explicam por que minha poesia
deitou aqui suas raízes.
Apreciando essas criações do povo, saídas das
mãos trabalhadoras de suas mulheres, veremos
por que aqui tudo floresce.
Primavera de Isla Negra, saúde !