AO MESTRE COM CARINHO
Você mal acaba de ler qualquer um de seus poemas,
e sente uma vontade imensa de escrever também,
Tal é a beleza e a leveza da forma como ele escreve.
Ele escreve como quem conversa com o vizinho,
contando sobre o Bem-Te-Vi de peito amarelo que há pouco
dava rasante em sua piscina.
A gente até sente que pode escrever também.
Pode?
Não com a mesma beleza, mesma leveza que ele é claro,
mas também de forma sincera, simples e leve.
É como se tivéssemos baixado um daqueles aplicativos
para smartphone.
Sabe?
Terminei de ler um de seus poemas
e comecei a olhar para os objetos da minha sala
de forma diferente,
de um jeito que não parecia ser meu.
Alguns objetos, em especial aquela escultura azul sobre a estante,
que trouxe de Quito-Equador,
pareciam poder se comunicar comigo.
Mesmo aparentemente muda, aquela escultura feita com pistões de automóvel falava comigo,
parecia me ouvir e entender meus sentimentos.
Segui pensando alto, mas não era a minha voz,
era a voz dele em mim,
a mesma daquele poema
que ele mesmo declama no filme no Youtub.
Um bom poema é assim,
Parece que o poeta empresta-nos os óculos,
mais do que isso, empresta-nos seus próprios olhos,
E às vezes até nos aponta a direção em que devemos olhar;
Como se com as mãos em nosso ombro alguém
tenta nos mostrar no céu de maio ,
alguma estrela ao sul de Órion
ou de gêmeos.
Relemos duas ou três vezes mais aqueles tais poemas
e com nossos próprios olhos vamos abrindo janelas
e mais janelas.
Bom, a esta altura não importa mais se são nossos
ou não aqueles olhos ,
aqueles óculos,
Aquela voz.
Geralmente arrisco umas palavras,
Sem pretensão alguma,
senão compartilhar um sentimento,
uma ingênua alegria.
Ao poeta Billy Collins