Está tudo aqui
E dizem que Michelângelo falou: “Como faço uma escultura? Simplesmente retiro do bloco de mármore tudo que não é necessário.” Mas Michelângelo deve ter gasto muito mármore para chegar à condição de um exímio escultor, então me perdoem os meus mármores gastos para me aperfeiçoar na escrita. Quem sabe no futuro não saia uma Pietá das literaturas ou quem sabe hoje um texto capengo não se torne uma Vênus de Milus dos textos, pois esta mesmo incompleta tem sua beleza reconhecida nos traços que restaram.
Michelângelo já me deu a receita: Está tudo aqui (Mais ou menos né? Tirar as sobras não é tão fácil assim.)
E começo olhando objetos, esperando suas mensagens
E fico ouvindo os ruídos, esperando seus ditados
E toco no teclado, esperando o start
A partitura já esta aqui neste ambiente
A música esta escrita, mas esta num emaranhado de palavras; de símbolos; de sons;
Tento pinçar a melhor melodia.
Procuro decifrar a mensagem que este quarto me passa
A poesia que ele encerra
Talvez a luz que pisca do computador indicando seu processamento possa me dizer que esta vida é fugaz ou dele venha uma mensagem em código Morse. Quem sabe um S.O.S. cibernético invertido. Gritando por socorro, gritando em meu socorro: Querendo tirar os filtros que tenho pela educação, pela minha capacidade intelectual, pelas minhas crenças, querendo me mostrar como sou limitado e como são infinitas as conexões possíveis.
Quem sabe a tesoura guardada de pé, num porta canetas não seja um simulacro de uma coruja que fica me observando com seus olhos grandes (na verdade alças para acomodar os dedos – mas isto não vem ao caso) querendo ver o meu grande momento.
O som da máquina de lavar roupas funcionando na lavanderia ao lado invade minha observação e seu batimento ritmado parece que entra em sintonia com meu coração e parece que já escuto o meu próprio coração lutando para limpar minhas impurezas num ciclo para roupas pesadas.
Tenho apenas a certeza de que no exercício deste olhar um dia este mundo escondido por meus filtros saltará. Quem não se lembra do Néo quando descobre/vê os códigos da Matrix. Citando outro filme mais recente é como se uma hora eu, Jack saísse do Quarto e descobrisse um mundo cheio de novas alternativas. Um dia nós lagartas nos descobriremos com asas e vamos descobrir outro mundo ou o mesmo mundo que como borboletas veremos sob nova perspectiva.
Espero que vocês estejam aí para me ouvir. Enquanto isto vou estragando alguns mármores, mas faz parte.
Ops, podia jurar que a tesoura deu uma piscadinha
;)