Homem do Norte
O sol e sua luz forte, voltada para os rostos, deixando marcas vermelhas e sede nos poços. Queimando o sangue das flores, inaugurando dores nos braços, fatigando a verdura dos pastos, mirrando a canção em meio ao abraço.
O sol se banhando na fonte, até o cair da noite. Seca-a lentamente e volta na manhã; e a fonte já cansada, já quase adormecendo,
pinga em lágrimas nos corpos.
A fome deitada no chão, apertando ventres, mastigando as mulheres, numa infinda digestão. Terra sedenta, empoeirada e rachada, homens de vento, homens de estrada, órfãos do tempo, da chuva, vestindo suor nos dias e noites enluaradas.
Cactos mirrados, voltados para o poente, de costas castigadas pelo nascente; impiedoso, cada vez mais forte, mais árduo, triste, duramente, avançando rumo ao alto, à secura e dormência.
O sol e sua luz forte; os matos e sua morte; os homens e suas histórias; seus braços e suas mulheres; seus filhos que eram fortes.
O sol e sua viagem infinita, sem tréguas, dentro do Norte.