Bolhinhas de Essências Lunares
Sentada à languidez das margens dos teus olhos, des-sonho os sonhos lucífugos e contigo sonho acordada... Chamo-te com uma intimidade mosaica de passarinho enamorado e você sempre vem pra fazer ninho em meu querer. Traz no, olhar, o reflexo dos meus suspiros-plácidos-dionísiacos, alargados de tanta presença tua que neles cabem o mundo inteiro. De longe, avisto descendo a esfumaçada corredeira das lembranças o barquinho branco da saudade com suas velas de cordas de liras e alaúdes... num diapasão de beijos úmidos acompanhado por uma orquestra de girinos transparentes com enormes cabeças de sol maior, dó, ré, mi...
Ao chegar diante de mim personificado de saudade, percebo um tanto aluada que essa é a distância máxima que nos desaproxima para que possamos estar próximo um do outro.
Com os meus olhos teus tão perto rio encantada com as joaninhas albinas que brincam de esconde-esconde no tabual dos cílios teus, numa fusão perfeita de tempos que nunca chegaram a terminar. Reticentaram-se!
Nesse aguaçal de límpida inocência, afundo meus pezinhos pequenos e os retiro rapidamente pingando bolhinhas de acácias com essências lunares nevadas que, de tão alvas, confundem-se com borboletas albugíneas: artesãs de risos que moram no regato de águas azuladas que delineiam toda a extensão da curva do teu sorrir.
Eu rio no compasso do teu riso bobo de bobeiras adocicadas e ternuras de algodão doce e encantamento pueril...
Um riso doce de pé-de-muleque nas nuvens; nuvem que como, grama, fez alquimia com a poeira da dança de roda da menina, dando origem aquele solo mágico.
Cheguei até a pensar que aquele solo agramado de nuvens e essências gramilíneas pertencia a outras eras, a um tempo remoto em que o céu morava na terra com a gravidade invertida e, as tranças enraizadas da menina faziam sombra no céu, mas, meus pensamentos não chegaram a completar-se por que seu beijo fez uma cócega medonha em meu sorriso. E eu ri de riso somente; até a barriga doer... como um barco alabastrino fui naufragando lentamente no mar onírico da sua boca...
(Edna Frigato)