De soslaio chove no canto dos olhos
De soslaio a velocidade vai contemplando a cidade.
Chove no canto dos olhos e há medo e fascínio. Saudades na madrugada e na música que acompanha a viagem. Muitos sonhos despedaçados no canto das ruas, muitas esquinas sorvendo pedaços de gente que dirigem em altos pensamentos. Ontem falavam, hoje sussurram, amanhã suspirarão os desejos.
Nada de normal dentro do decorrer das horas. Elas estão vagas e precisam de momentos e me perco nesses raros intervalos em que se divide o tempo e a pressa.
O som dentro do carro, “Scorpions”. As luzes nos postes denotando o escuro. Verdades sobre o que se vive e que se deixa de viver. Loucuras de palavras confusas e mãos dentro das blusas, se protegendo do frio e se agarrando ao anseio. Quanta vida deixada para trás, no meio do mato, no canto da estrada, dentro de outra cidade; e agora aparece essa paisagem e me perco na naturalidade do viajar e voar na música e no interior da máquina que me leva. Ficaram as pessoas de determinadas noites e prolongados dias de programações para se ter novas noites iguais.
Ficaram as saudades pulsando como rios de quedas imensas e sem nenhum medo me atiro no que traz a saudade. Abraço, beijo; encanto-me com tamanha beleza e oculta leveza.
De soslaio chove no canto dos olhos, no fim da música.