Sombra Fútil

Sombra, sim.

O que mais seria eu?

O que mais serão todos,

senão uma projeção dos outros

no anteparo da existência?

Contorno obscuro sem conteúdo próprio!

(E o que é próprio? Próprio de que e de quem?)

Fútil, claro.

Verso sobre o cotidiano.

(E poderia eu versar sobre outra coisa?)

Sobre Seu Zé e Dona Maria,

sobre as ruas, as pessoas que

por elas transitam, e ,sobretudo,

sobre as coisas que transitam por nós.

Sim, não somos todos ruas?

Por nós não há de passar o mundo

e tudo que nele subsiste e que logo

não subsistirá mais?

Trago-te, leitor, não respostas, mas inquietações.

Mostrar-te-ei como sou: uma cópia vulgar dos

célebres símios humanos,

dos mais conspícuos de nossa espécie que,

prestigiando a brincadeira de existir, teimam

em atribuir sentido ao nada.

Sombra fútil chamada gente
Enviado por Sombra fútil chamada gente em 21/03/2017
Código do texto: T5947370
Classificação de conteúdo: seguro