Sombra Fútil
Sombra, sim.
O que mais seria eu?
O que mais serão todos,
senão uma projeção dos outros
no anteparo da existência?
Contorno obscuro sem conteúdo próprio!
(E o que é próprio? Próprio de que e de quem?)
Fútil, claro.
Verso sobre o cotidiano.
(E poderia eu versar sobre outra coisa?)
Sobre Seu Zé e Dona Maria,
sobre as ruas, as pessoas que
por elas transitam, e ,sobretudo,
sobre as coisas que transitam por nós.
Sim, não somos todos ruas?
Por nós não há de passar o mundo
e tudo que nele subsiste e que logo
não subsistirá mais?
Trago-te, leitor, não respostas, mas inquietações.
Mostrar-te-ei como sou: uma cópia vulgar dos
célebres símios humanos,
dos mais conspícuos de nossa espécie que,
prestigiando a brincadeira de existir, teimam
em atribuir sentido ao nada.