Outonal de flores desertas de jardins

O dia amanheceu em pétala ao contrário...

Outonal - deserto de flores, folhas e jardins ...

Folhas secas singram nos monturos de versos cobertos por olhos d'água.

Tordos margeiam riachos de olhos nublados à procura de seus penachos alinhavados nas penas da correnteza.

Do outro lado dos escombros Éolo sopra pólen em nuvens nimbus até que se sujem todas e adormeçam entre formigas e raízes no chão morno junto aos detritos do ocaso.

Heras se escoram nos caules de estrelas que brotam de Vênus criando raízes no chão enxovalhado de vaga-lumes.

Duendes e gnomos se camuflaram de cogumelos roxos no tronco de uma lua oca de grilos de bicho de pau.

Assobiam os primeiros ventos de outono no bico do sabiá-laranjeira reduzindo o fogo digestivo do sol a um brilho novilúnio retratado em tons de azul.

O outono se prenuncia no declínio da paisagem, no suicídio das folhagens, na exuberância das cores que aquarelam o chão com cascas de pérolas secas.

Essa aragem outonal desabotoa os meus olhos de paisagens alargados de brancuras e devaneios de eclipse de refegos de horizonte.

Por uma fresta larga das horas enrosco-me no vento alísio em caracol e numa coreografia vegetal me misturo às folhas amareladas pelo chão.

Outonei-me!

(Edna Frigato)

Edna Frigato
Enviado por Edna Frigato em 20/03/2017
Reeditado em 25/03/2017
Código do texto: T5947293
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