Outonal de flores desertas de jardins
O dia amanheceu em pétala ao contrário...
Outonal - deserto de flores, folhas e jardins ...
Folhas secas singram nos monturos de versos cobertos por olhos d'água.
Tordos margeiam riachos de olhos nublados à procura de seus penachos alinhavados nas penas da correnteza.
Do outro lado dos escombros Éolo sopra pólen em nuvens nimbus até que se sujem todas e adormeçam entre formigas e raízes no chão morno junto aos detritos do ocaso.
Heras se escoram nos caules de estrelas que brotam de Vênus criando raízes no chão enxovalhado de vaga-lumes.
Duendes e gnomos se camuflaram de cogumelos roxos no tronco de uma lua oca de grilos de bicho de pau.
Assobiam os primeiros ventos de outono no bico do sabiá-laranjeira reduzindo o fogo digestivo do sol a um brilho novilúnio retratado em tons de azul.
O outono se prenuncia no declínio da paisagem, no suicídio das folhagens, na exuberância das cores que aquarelam o chão com cascas de pérolas secas.
Essa aragem outonal desabotoa os meus olhos de paisagens alargados de brancuras e devaneios de eclipse de refegos de horizonte.
Por uma fresta larga das horas enrosco-me no vento alísio em caracol e numa coreografia vegetal me misturo às folhas amareladas pelo chão.
Outonei-me!
(Edna Frigato)