Teclado
O teclado como pista, meus dedos como dançarinos frenéticos de uma música que tocava do infinito do meu pensamento num acorde improvável e de harmonia duvidosa, gritando ao mundo a dor e a alegria de um parto. O nascimento das idéias que só vivem quando divididas. Choro forte, pulmão sadio.
Dedos que pairam sobre o teclado atirando-se num ímpeto de coragem e loucura como quem salta de pára-quedas formando palavras que pretendem traduzir a intensidade dos sentimentos. Querem registrar a memória de fatos que nem aconteceram, mas que já fazem parte da minha vida.
A paz e a alegria de escrever fazendo de mim um ser mais completo. As figuras que posso inventar me impulsionam para as figuras que vou inventar. O amor pela criação determinando meu destino. Neste ponto a dança é uma valsa e os cenários são as nuvens e o rodopio aumenta sua velocidade e sua abrangência desconhece limites.
E vejo atônito que a dança me é nata. Quando tento entender perco o passo. Natural, só quando não me preocupo com ele nem com as pessoas que me estão olhando na pista. Fico ridículo quando penso no ridículo que poderia estar passando com minha dança. Ao contrário sinto-me bem dançando e a estética me agrada quando olho por dentro. É produtivo e se observando da margem não tenha a mesma percepção não importa, pois daí o filho já nasceu o terá sempre o meu amor.
Filhos meus venham para o papai.