Quando o bairro dorme

Essa madrugada ouviu-se um grito estridente

daqueles de arrepiar os cabelos do braço,

parecia alguém sendo laçado pela dor

sendo subjugado pelas ruas do bairro.

O grito agudo e embriagado ecoou forte, socorro,

e depois, o barulho dos passos que iam sumindo,

subindo, correndo em direção ao colégio,

distantes, distanciando-se da vítima.

As luzes das casas e dos prédios se acenderam,

as janelas barulhentas e os cachorros inquietos reagiram,

a vizinhança toda se mobilizou,

enquanto o vigia motoqueiro sinalizava sua chegada com o fiu-fiu da buzina de sua moto.

Com o passar do tempo tudo se acalmou

as ruas seguiram duras, solitárias e cheias de vazios enormes,

a escuridão que os postes iluminavam já não eram suficientes para clarear tanta dor

e o silêncio ensurdecedor que vinha daqueles olhos

que aquela altura, já não via a vida da mesma forma

caminhava novamente, agora, passos descompensados

de quem acabara de perder toda a sua inocência de uma só vez.