TEMPO ROUBADO
A velocidade é um ladrão do tempo,
Na correria do dia a dia, busca-se encontrar nas coisas o que se perdeu entre as pessoas.
O momento é de busca, de euforia, corrida, partida e despedida,
mas cada momento que se vai, anula-se, negativa-se em outras tantas oportunidades, o instante de outro porvir.
Ah ! O vento intenso do momento único, do som inesperado, do afago amigo , do coração macio, do cheiro do pão quentinho na padraria de seu João , do café fumegante , da chaleira apitando e das conversas intermináveis sobre nada , para justificar o que só o amor pode fazer.
Estar na companhia de quem se ama marca uma transposição do mundo, em uma sensibilidade como o voo disperso de borboletas que suavizam o dia, na beleza frágil de sua rápida existência. Em mil palavras nada pode ser dito se o coração não está comprometido.
No vazio do que não se explica, multidões de flagelados e carentes de amor caminham sozinhos, mas com as mascaras rígidas de uma felicidade falsa .
Nos rostos escuros e olhos fundos, o brilho há muito se perdeu, e a chama já não aquece mais, mas o relógio não para, as buzinas continuam e a vida intimamente se esvai. A chama já não queima, nem brilha, trás uma luz opaca ao fundo, fria e sem alegria.
Na escuridão das espeças nuvens, ao longe se vê poucas estrelas e o vento incessante rasga a calada da noite.
No espelho das ilusões, a visão distorcida, avista num lugar distante, algo que alegre o coração . Isso é o suficiente para que o homem deixe o presente e corra em busca desse futuro, que de tão distante , como que miragem , se desvanece sempre em que penso chegar .
No nada se caminha só. E só se chega ao nada. Sem aplausos, sem homenagens duradouras, sem certezas, mas inundado de dúvidas o coração cansa, as cortinas e os olhos fecham-se.
É a ultima entrega, e não há glórias, mas o tempo permanece. O tempo é soberano, as vezes um instante é tudo que não se tem.
Thércia Lucena Grangeiro Maranhão.
16/03/2017