Carta ao Passado
Ilustríssimo Senhor
Em razão dos avanços tecnológicos, devia eu redigir esta, nos teclados de meu computador,valendo-me dos recursos modernos disponíveis,que muito admiro.
Prefiro escrever-te à caneta-tinteiro, tua velha conhecida, que em teu tempo fora responsável pelas mais belas cartas de amor,ou mesmo
familiares, carregadas de sentimentalismo do escritor remetente, e recebida com expectativa pelo destinatário.
Saiba que lamento a perda de tais costumes. Áureos tempos de singeleza, da elegância das caligrafias bem feitas,das finezas das palavras contidas,que por si só já muito dizia de seu autor.
Velho camarada, o mundo correu depressa demais, tudo expresso, urgente. As pessoas andam solitárias,remoendo-se em si mesmas
solitárias,egocêntricas. Muitos se esqueceram do que significa a empatia,e a importância do contato pessoal .Fato é que o mundo
não pode parar. É necessário mesmo as renovações, mas que ainda perpetue o saudosismo dos áureos tempos de singeleza ,como aqueles das cartas via Correios,da vizinhança solidária,das crianças brincando nas calçadas,hoje não mais possível em razão da violência ,do romantismo das serenatas.Feliz aquele que viveu essa emoção!
Perdemos de um lado, ganhamos de outro, é a Lei Modernidade!
O Homem inventa,avança,renova, mas penso que nada substituirá as lembranças das velhas cartas, mensageiras de alguns infortúnios, de declarações românticas ou de muitas boas novas!
Caro amigo Passado! Despeço-me aqui neste ponto, já que me encontro prestes a sucumbir nas teias da melancolia, não sem certo prazer em recordar-te, que muito bem me faz.
Com apreço:
Tempos Modernos