Pela praia...

A Lua ia alta quando decidi andar descalça pela praia. O frio da areia e o murmurar das ondas, à mistura com a luz provinda do alto, despertava-me saudade. Era como se no meu ínfimo faltasse a parte principal de mim.

A brisa amena da noite beijava-me a face, acarinhava-me os caracóis dos cabelos que tremulavam levemente e ondulavam ao som de uma melodia qualquer.

Sentei-me na areia e mergulhei as mãos nas centenas de grãos que ocupavam o espaço do meu corpo. Tinha os pensamentos presos à recordação de um amor desavindo, que se esbateu no tempo e tornou-se apenas uma memória. No meu cérebro, ribombavam as reminiscências de desejos incumpridos. E ali, naquela praia onde o cheiro a maresia espraiava pelo denso areal e a luz da Lua reverberava nas águas calmas do oceano que dormia, as ideias salteavam gritantes e pediam-me respostas às quais não podia, nem sabia, responder.

E voltei a caminhar na areia, em noite de lua cheia, sob a humidade das ondas que já me banhavam os pés, enquanto na mente, recolhida em reflexão, brotavam mil e tantos pensamentos:

“Quantas vezes imaginamos que as paixões são eternas e que o mundo se recompõe quando estamos apaixonados. Deixamos de lado as dúvidas e incertezas para imergirmos na ilusão de um amor imperecível. Mas o amor só por si não é assim, temos de construí-lo, de lapidá-lo, de dar verdade à razão de amar, porque o amor sozinho esvai-se como o sangue que verte da ferida. É preciso nutri-lo, ampará-lo, cuidar para que não se esvaeça. O amor sozinho é frágil, muitas vezes atrocidado pela razão, macerado pela avidez materialista, perece no tempo sem que o possamos desviar da fatalidade.” Eram as questões que irrompiam continuamente naquele pedaço de praia num lapso de tempo.

Isabel Fagundes

30/07/07