A PAZ MORA NA ALMA (?)
Arde insistente n’alma
A dor lancinante esmaece
Movida a voz terna de Mercedes Sosa
Os dedos que massageiam a pele meiga
Confeccionam a carta geográfica para orientar o míssil
E a fagulha cruza o oceano para dizimar milhões de criaturas
Todos os dias sucumbem almas
Na guerra dissimulada de paz
Na paz ostentada pelos instrumentos bélicos
Nas montanhas, nas favelas, nas aldeias
Nas paupérrimas povoações
Em campos minados, em campos floridos
A batalha inclemente é contra a fome e em favor dela
Movido a estupidez e a ódio
A guerra carreia todos
A um mausoléu imponente
Gélido e putrefato onde se amontoam caveiras dos desarmados
Os que dormem no mausoléu esperaram resignados
por uma paz distante
Ora inertes, com as mãos postas sobre o tórax
Esperam que a fome não seja a pior arma
Que não se deflagrem mais guerras
Contra os famintos
Que não se dizimem populações em nome do ódio
Enquanto os donos do poder
Banqueteiam eufóricos
na mais absoluta paz.