Varro saudades, como varrem ruas de manhã
Varrem ruas de manhã para que as pessoas as sujem de novo no decorrer do dia.
Eu prefiro varrer saudades de manhã enquanto olho pela janela.
As pessoas uniformizadas; como os uniformes as descaracterizam!
Vão vagarosas, outras apressadas, estão indo vender sua força de trabalho.
Tomo meu café quente, saindo fumaça pelas bordas da xícara.
Lembro de tempos, de ventos.
Vem um pouco de um monte de coisa e gente.
Ficam ali comigo, mordiscando meu pão, olhando pela janela comigo.
Deixo isso por um instante e dai quando vejo o fundo da xícara,
eu expulso a saudade.
Nem contemplo mais a cidade e suas pessoas obrigadas a pisoteá-la todo dia, para o mesmo consumo em busca de sobrevivência.
Eu varro saudades todos os dias, como eles varrem ruas de manhã.