Águas profundas

Mamãe era assim.

Poço de candura.

Profundo,profundo,cujas águas, nunca conseguimos mergulhar.

Sempre um olhar de reprovação.

O dedo em riste apontando o errado.

Afagos que machucavam.

Cuidou para que só nos faltasse o que era importante.

Se nos amou?

Levou com ela este segredo nas palavras que nunca disse, no carinho que jamais nos fez.

Mamãe...

Paz com sabor de guerra.

Silêncio ensurdecedor.

Vida sem riso e sem pranto.

Sem júbilo ou dor.

Orações infinitas que nos levaram a duvidar.

Que Deus bondoso era aquele que teria criado mamãe?

Estive com ela nos momentos derradeiros e até o último instante busquei algo em seu olhar.

Nada.

Chorei quando se foi.

Chorei sem remorso, resguardada de qualquer dor.

Mamãe, poço profundo que não nos saciou.

Lucia Rodrigues
Enviado por Lucia Rodrigues em 25/02/2017
Reeditado em 26/02/2017
Código do texto: T5923183
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