Cleópatra vai ao carnaval
Depois do fato acontecido,
uma dúvida ainda pairava...
Embarcara nessa de ingênua,
ou era só mais uma desavergonhada;
afinal, não era a moça mulher bem-casada?
Logo que entrara no salão desacompanhada,
teve a sua fantasia, à moda Cleópatra, rasgada.
Sentira dois ávidos pares de mãos firmes
roçando suas coxas roliças, peitos e nádegas.
Em meio a uma música ensurdecedora,
ouvira em seu ouvido a proposta cochichada:
“Aqui só vale duas fantasias, meu bem”.
“Se quiser brincar nesse salão,
tu ficas de Eva e eu de Adão”.
A Cleópatra, incrédula de início, estremecera
quando vira aquele Adão com a cobra na mão.
Era um mulato ágil e faceiro.
E o outro par de mãos?
Eram de uma lésbica alcoolizada,
que logo caíra de boca, entre as pernas,
de uma desnuda e atarantada Cleópatra.
Sim, fora só mais uma noite louca de folia.
Sem censura, sem pudor e sem camisinha.
Apenas dois dias depois de tanta alegria,
é que lhe viera a triste percepção:
“Brincadeira? Que nada”.
As lágrimas agora corriam copiosas por suas faces.
“Fui violentada”.
Muitos julgarão e certamente condenarão nossa desavisada Cleópatra, mulher desacompanhada a procura de diversão. Outros ainda insistirão em buscar mil e umas justificativas para o crime cometido.
Dirão esses que, “sem argola no dedo” ou na falta de “um dono” zeloso ao seu lado, toda mulher serve de repasto.
Por minha vez, como criatura tão falha que sou, não condeno nem explico Cleópatra. Apenas não poderei jamais deixar de repudiar o crime perpetrado contra qualquer homem ou mulher.