URGÊNCIAS.
Acordou e deixou ainda dormindo um passado de incertezas, sofrimentos, inquietações e temores. Decidiu-se pelo agora.
Tinha urgência em ser feliz. Fez-se bonita, vestiu-se de vermelho, vermelho de festa e de coragem. Despiu-se da vida em
preto e branco que até então, levara. Urgia sorrir, cantar, dançar, amar, viver. Viver as cores do arco-íris, o brilho das estrelas,
os raios de luar. Abriu a mala, a caixa preta, onde, sonhos adormeciam eternamente. Sacudiu-os, espantou a poeira e
ressuscitou-os um a um. Alguns, já não faziam mais sentido. Outros, foram, cronologicamente, arrumados, obedecendo a
ordem de urgência. No peito, batidas fortes de um coração renascido. Na alma, a leveza do voar dos pássaros libertados. Na
mente, a certeza de um mundo feliz. Decidida, apressou os passos até a porta. Vitoriosa, arriscou um último olhar à carcaça
que acabara de abandonar. Olhou para o relógio e zerou o tempo. Abriu a porta, suspirou, respirou e apassarinhou-se.
Elenice Bastos.