Oitenta e oito
Oitenta e oito
E eu digo- ainda não.
Faço uma retrospectiva
Oito, dezoito, vinte e oito...
Oitenta e oito lateja no meu peito,
E me pergunto- quantos oito mais?
Me treme os cílios , me aperta o nó na garganta
Me olho no espelho e vejo uma menina aprendendo a contar nos dedos os dias, tão desapercebida de tempo,
tão despreocupada com a soma das horas.
As mãos que a seguram já não são tão lisas quanto as dela, mas que importa isso, se são fortes o suficiente para pega- lá no colo e atravessar a rua até a porta da escola
Pra que aprender a contar, eu penso. Ela tinha empolgação eu já não tenho...
Oitenta e oito
E me lembro das provas na escola
Somar, multiplicar
Dividir...subtrair...
Eu me orgulhava de saber de cor a tabuada
Que bobagem, penso agora. Eu devia estar feliz.
Mas oitenta e oito me pesa e eu de novo no espelho vejo uma face além de até onde consigo somar
E quanto mais olho percebo que serei incapaz de reverter o tempo, de enganar os dedos e fazer parar os dias
Então reinicio a contagem de um outro jeito
Oito, nove, dez, onze... oitenta e oito, oitenta e nove...