LOUCA EXISTÊNCIA
XXVII (Poema de Dante para Beatriz)
Tão longamente me reteve Amor
E acostumou-se à sua tirania,
Que, se a princípio parecia rude,
Suave agora me habita o coração.
Assim, quando me tira tanto as forças
Que os espíritos vejo me fugirem,
Então a minha frágil alma sinto
Tão doce, que o meu rosto empalidece,
Pois Amor tem em mim tanto poder
Que faz os meus suspiros me deixarem
E saírem chamando
A minha amada, para dar-me alento.
Onde quer que eu a veja, tal sucede,
E é coisa tão humil que não se crê.
(Dante Alighieri)
Lá diz o poeta “amor é fogo que arde sem se ver…” e é bem certo, quando a privação imposta pelo destino está predestinada, esse fogo que nos habita mesmo contra a vontade da razão vai consumindo o interior e tudo aquilo que se produz é focado de forma louca no ser amado… Mesmo quando em outras situações os braços já não se estendem, pelo desespero da frustração, é o amor que predomina as emoções, faz o coração pulsar insano, desvairado e sobretudo não esquece… É ele que anima a vida, é esse sentimento tão forte e profundo que impõe a sua vontade inquebrantável e assim se vive, com essa louca saudade sempre presente, a nostalgia e a tristeza dominando o querer e o dia-a-dia de um poeta loucamente apaixonado e ao mesmo tempo tão frustrado.