À sombra de agosto


É agosto novamente e eu me lembro de agosto do ano passado,
eu estava exatamente pensando em agosto do ano anterior.
Estava à sombra da minha árvore, e ela estava vestida de rosa,
rosas que  caiam lenta e suavemente como neve.
Imaginava que Deus tocava meus cabelos com suas mãos de vento,
e tirava músicas nas árvores e conversava comigo na língua das maritácas.

Cismava que Deus era o todo, que Deus era o nada, era o vazio.
Deus era o olhar da minha gatinha a um palmo dos meus olhos.
Deus era a solidão, aquele momento
Era o não saber e o não pensar

Lembrava-me de como eram bons os tempos de criança,
quando Deus existia e pronto.
Não precisava nem crer, porque não era uma questão de fé.
Deus existia como existia sombração, mula sem cabeça ,saci e borboletas..
Se me perguntassem quem eu preferia, minha mãe ou Deus,
eu responderia sem pensar, minha mãe.
Hoje tenho certeza de que ele entenderia.

Pensava que Deus era plural. E justamente por isso era singular.
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Grácio Reis
Enviado por Grácio Reis em 03/08/2007
Reeditado em 03/08/2007
Código do texto: T591731