MEMÓRIAS - A OLARIA
31/03/2010
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("...E quando a lembrança veste-me calças curtas,corro até êle a procurar pela fatia de mim incrustada na argila do tempo.A presença silenciosa da saudade é testemunha fiel desta minha busca.")
A mesma ladeira que ainda desce.
Agora,acabrunhada e triste,desvia olhares ao seu derredor pois que nas laterais,doutros tempos floridos,restam hoje as heras...Desoladas taperas.
Cinamomos sem flores,algumas laranjeiras entre funcho e urtigas na paisagem esquecida.
Um cão aparece,como vindo do além.Avança,defende,o que é de ninguém.Esbugalha os olhos,rasga o chão com violência.Depois se abranda,como a pedir clemência.
[Então,em carência tamanha,engole sua ira.Cala-se,e me acompanha]
O miado sofrido de um gatinho perdido
rasga sobras da tarde,onde o sol já não arde.
E ao fim da ladeira,feito uma fotografia,adormece em memórias a antiga olaria.
Chaminé apontando para um céu de infinito.Emperradas,sem prumo,em total desalinho, venezianas lamentam num pranto de argila.
Pelos tempos de outrora,de festivos apitos despertando sua gente em brancas casinholas (pombais enfileirados).
De risos e sonhos em janelas pequenas.Preguiçosas falenas sonolentas de orvalhos,varais soltos aos ventos abanando retalhos.
Criançada pançuda,caracóis nos cabelos,pés no chão ,caras sujas,pão com doce nas mãos.Cachorros vadios uivando manhãs e muito além dos trigais luz do sol se abrindo.
Agora só o silêncio abraçado às lembranças,cabisbaixos ruminam desesperanças.
Corredores vazios que levam ao nada.Carriolas,poeira,rodas enferrujadas...Abandono entranhado pelas teias de aranha.
Diz-se quando à noite,que é dos invisíveis,se reunem fantasmas ao redor de fogueiras.Eis que das gargantas,desatados os nós,entre um soluço e outro compartilham o chá.
Então,compungida,a coruja buraqueira lança um pio solidário no alto da cumeeira
Joel Gomes Teixeira
Texto reeditado.Agora,acabrunhada e triste,desvia olhares ao seu derredor pois que nas laterais,doutros tempos floridos,restam hoje as heras...Desoladas taperas.
Cinamomos sem flores,algumas laranjeiras entre funcho e urtigas na paisagem esquecida.
Um cão aparece,como vindo do além.Avança,defende,o que é de ninguém.Esbugalha os olhos,rasga o chão com violência.Depois se abranda,como a pedir clemência.
[Então,em carência tamanha,engole sua ira.Cala-se,e me acompanha]
O miado sofrido de um gatinho perdido
rasga sobras da tarde,onde o sol já não arde.
E ao fim da ladeira,feito uma fotografia,adormece em memórias a antiga olaria.
Chaminé apontando para um céu de infinito.Emperradas,sem prumo,em total desalinho, venezianas lamentam num pranto de argila.
Pelos tempos de outrora,de festivos apitos despertando sua gente em brancas casinholas (pombais enfileirados).
De risos e sonhos em janelas pequenas.Preguiçosas falenas sonolentas de orvalhos,varais soltos aos ventos abanando retalhos.
Criançada pançuda,caracóis nos cabelos,pés no chão ,caras sujas,pão com doce nas mãos.Cachorros vadios uivando manhãs e muito além dos trigais luz do sol se abrindo.
Agora só o silêncio abraçado às lembranças,cabisbaixos ruminam desesperanças.
Corredores vazios que levam ao nada.Carriolas,poeira,rodas enferrujadas...Abandono entranhado pelas teias de aranha.
Diz-se quando à noite,que é dos invisíveis,se reunem fantasmas ao redor de fogueiras.Eis que das gargantas,desatados os nós,entre um soluço e outro compartilham o chá.
Então,compungida,a coruja buraqueira lança um pio solidário no alto da cumeeira
Joel Gomes Teixeira
Preservando a gentileza dos comentários no texto anterior:
10/06/2011 06:41 - Maria Olimpia Alves de Melo
Essa semana estarei indo ver as minhas chaminés, onde hoje vivem andorinhas em vez de fumaça.Estou com um aperto no coração.Ler seus textos é preparar-me para acolher as minhas lembranças. Um abraço na tentativa de aquecer-me; um frio bem maior do que sinto agora me espera na Mantiqueira.
07/06/2011 23:31 - Memórias de uma abelhinha de Irati
oi conterraneo essa olaria me traz gratas lembranças; quando em criança ia visitar minha tia lila e meu tio beto,que moravam bem pertinho do olaria ou do barreiro como diziam alguns sorvi cada palavra escrita como quem suga um doce mel alias em irati tudo é doce...e as lembranças muito mais. amo tudo que me vem da sua memória,pois elas se encaixam nas minhas memórias dessa feliz cidade um abraço
05/06/2011 22:31 - Lisyt
Joel, Sua poesia me emociona. E agora, com a foto, senti-me inserida ao ambiente.Ficou muito boa a junção da foto ao texto Boa noite.
04/06/2011 01:14 - tania orsi vargas
Imensa satisfação em reler este texto que é uma pintura em palavras, relatos, e resgate do passado, um memorial em poética prosa, um raro documento tão perfeito que deveria ser emoldurado e exposto. Você aprendeu rápido a usar os recursos visuais. voltarei pra ler mais... abraços
26/04/2010 23:43 - Eva Gomes de Oliveira
"...o miado sofrido, de um gatinho perdido, rasga sobras da tarde..." Você é sensacional caríssimo, sensacional!
06/04/2010 21:12 - Edilson Souza (Malgaxe)
Sempre achei nostalgicas as venezianas ressecadas pelo tempo, com uma rala pintura elas assistiram do alto os anos passarem e as abandonarem por fim no silencio da saudade de um longinquo passado. abraços
05/04/2010 15:48 - Anita D Cambuim
Seu estilo é inconfundível. Bom crônica, romântico e observador. Boa semana.
05/04/2010 13:23 - Helena da Rosa
Esta "auarela viva" de palavras que pintas ai...emociona-me sempre, poeta! Parabéns. Lindod ia, bjs helena
03/04/2010 19:41 - RobertoRego
Joel,bela prosa! Você deveria transpor isso pros pincéis, meu amigo! Se pintar assim o que lhe sai dos olhos, da mente e do coração irá bombar numa Bienal! ... Parabéns sinceros, boa páscoa e bom domingo, caro poeta. Abraços fraternos.
03/04/2010 12:18 - Dete Reis
Vc, realmente escreve com o coração, e quem lê com o coração compartilha intensamente o belo que escreves. Meu abraço
02/04/2010 20:27 -
Boa noite caro poeta! Eita! Poeta! Foi buscar lá no fundo do peito. E que grande saudade me fez sentir o seu texto! Poxa! Fique aqui a imaginar certas coisas do passado Muito bom! Parabéns caro poeta
02/04/2010 17:09 - Maria Iaci
Se a sua prosa normal já é poética, quando você compõe uma prosa poética propriamente dita, sai debaixo! Aula de lirismo e arte de contar. Encantador, Joel! Um beijo carinhoso na testa.
02/04/2010 13:52 - Dante Marcucci
MAIS DO QUE UMA FOTOGRAFIA...Parabens, amigo gaucho honorário. Belissimo, como sempre. Um abraço de Feliz Páscoa
02/04/2010 00:13 - Rosso
É uma festa ler-te, mesmo quando o tema evoca melancolia e saudade. Mas sempre sensível e caprichado. Um prazer.
01/04/2010 22:31 - Déborah Tavares
Quando leio algo assim, que faz lembrar um tempo...sinto uma enorme vontade de ter feito parte dele...O passado as vezes parece conter a alegria da simplicidade que não consigo ver no futuro..Gostei muito, beijo..Feliz Páscoa!
31/03/2010 21:53 - Maria Olimpia Alves de Melo
A Rejane já falou tudo.Bonito demais.
31/03/2010 21:52 - Rejane Chica
Nooooossa,que coisa mais linda.Pude ver direitinho essa cena toda!abração,tudo de bom,chica