MEMÓRIAS DO SÓTÃO



Entre duas canastras que se encaravam varava um assoalho de tábuas largas,espiando picumãs pelos desvãos.
Nos extremos: Duas janelas.
A primeira,e mais sombria,aproximava-se do último degrau da escada. Abria-se para as laranjeiras e,inclinando-se em soleira,era possível avistar canteiros e riacho, olho d´agua e a casa do forno encolhida em mistérios de celeiro por onde,num dia chuvoso,avistara-se a silhueta de um menino.
Um enígma! Seria um anjo?...
Sumira logo em seguida,como que evaporando-se por entre o feno umedecido e o parreiral.
Presume-se,até hoje,ter sido um caroneiro do arco iris que traçara o céu daquela tarde chorosa.
A outra,abria-se para o povoado. Trazia a luminosidade de sóis que sequer haviam chegado.Sabia-se,entretanto,iluminando colinas de trigo em paragens longínquas...Os recados , em ouro e vermelho, davam conta de que logo estaria sobre as araucárias e bateria em cheio naquela janela, assim que cruzasse o potreiro pisado de azevéns.

Imperavam sorrisos,acenos,perene alegria... Um rastro florido de "Glostora", traçando a singeleza do romper dos dias,quando aquele senhor cruzava a porteira empertigado numa elegância cabocla.
Carroça colorida , cavalos brancos...
Escapava das páginas de um livro qualquer mergulhando rumo aos eucalíptos. Restava ,sonoro,um trote cadenciado.
Em meio à troncos enfileirados,o tunel do verde abria-se num caminho buscando quase sempre o infinito.
Pela rua cheirando à café fresquinho iam, pouco a pouco e de miúdinho, pingando colonos,meninos de escola,jeeps,carriolas...
E de quando em quando,entre vassouradas,a voz estridente de alguma vizinha,rasgava no peito em breve cantoria a cortina tôsca da monotonia.

Joel Gomes Teixeira
Texto reeditado.
Preservando os gentis comentários ao texto  anterior:

mentários
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24/03/2016 21:17 - Socorro Pinho
Gosto de crônicas que acordam memórias. O caminho da sensibilidade é semelhante quando nos permitimos. Nada passa despercebido. Ao fazermos esse passeio, vamos ressuscitando lembranças com imagens, cheiros e até sons. Também trago algumas memórias dentro dA mala de Zulmira, postada aqui mo Recanto.
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24/03/2016 15:19 - Dartagnan Ferraz
Iratiense, usei Brilhantina Glostora, muito tempo, deois substituí por um tal de Brilcreme e depois mais nada. Sua crônica meacordou saudades adprmecidas. Abraço.
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24/03/2016 14:00 - Lenapena
Brilhantina "Glostora", se fecho os olhos ainda sinto o perfume delicado que vinha dos cabelos lisos e impecavelmente bem penteados do meu vó Totó. Quanta saudade... ah, em nossa casa na vila, certa vez foi vista uma jovem senhora toda de branco, que em seguida evaporou-se no ar feito nuvem... reminiscências sempre me trazem suas lindas crônicas. Uma Feliz Páscoa pra vc.

23/01/2012 01:26 - Chico Chicão
Meu caro Joel de Irati do meu Paraná querido.Isto não é conto ,nem crônica.É uma cancão de puro lirismo.Dá prá ouvir o canto e o ranger da carroca.E a Vida se vai e esvai melodiosa.Lindo,Joel.Desejo encerrar citando G.Rosa:*Em noite de roca,tudo é canto e recanto.E há sempre um cachorro latindo longe,no fundo do mundo.* Beleza,Joelynski! Obrigado.Fique na paz!
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22/01/2012 20:11 - veralis
Amo vir aqui e me emocionar com suas lindas crônicas, Parabéns! Saudepaz.
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22/01/2012 12:03 -
Amigo Joel.O que vou dizer pode parecer contrastante.Mas, a riqueza da tua narrativa,faz com que um cenário aparentemente singelo, se torne de uma clareza que nos transporta para dentro da paisagem,dos cheiros, e dos ruídos que você tão bem transmite.Parabéns meu amigo! Aplausos com direito a bis!
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20/01/2012 01:22 - Maria Dilma Ponte de Brito
Seu texto cheio de sentimentalismo envolve qualquer leitor no clima. Recorri ao google para saber o que é "glostora" vi que é algo parecido com brilhantina. Vc lembra de cada coisa ...rsrs...Genial! Adorei!
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19/01/2012 23:12 - Giustina
Vi lá no face e vim me deliciar. Porque é sempre uma delícia teus textos e imagens! Grande beijo, meu amigo.
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19/01/2012 21:50 - Leonilsson
Meu grande amigo Iratiense, só posso dizer que Você e seu lirismo são essenciais neste Recanto. Grande abraço. Leo
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19/01/2012 21:24 - Anita D Cambuim
Joel,dessa vez não irei me repetir: palmas!............... Abraço.