Digito na intenção de ver palavras que já sei
Eu quero escrever apenas para ver meus dedos galopando teclas.
Digito na intenção de ver palavras que já sei. Mundo atual é poema que ninguém lê por completo. Já se vai logo ao final.
Toda gente tem pressa, ninguém se reconhece face a face.
Ruas que caminham sujeiras, que voam barulhos, humanos que seguem sem direção definida, com olhares atentos ao medo,
com pés ao vento de segredos, quando se veem surpreendidos por um homicídio ou qualquer ato ilícito.
Eu quero escrever apenas para não deixar em branco.
Digito na intenção de me sentar num banco de praça deserta a noite,
somente para ver os mendigos se aconchegando no chão
e as drogas se consumindo em chamas;
consumindo os que as dominaram e depois deram as rédeas para elas conduzirem a carruagem.
Mundo político, cheio de poderes e desejos, mentiras e absurdos. Escrevo o que todo mundo já sabe, mas faz de desentendido, ou se domina pelo receio. Eu fico em meio a revoluções, separado apenas pela tela da televisão, me envolvo em discussões, manifestações, mas somente as paredes de minha sala, ouvem.
Há vândalos depredando o que não se devia, mas é que vândalos
são depredados todo dia por si mesmo.
Escrevo o que todo mundo sabe, mas cala.
O que todo mundo vê, mas fala somente para si.
Não existe revolução com um apenas.
Não existe manifestação que mude nada, quando não mudamos a nós primeiro.
O poder está em nós, que em conjunto colocamos um para exercer a soberania de criar e executar leis para nós.
Porque se manifestar, se nossa manifestação
denigre e atinge somente o que decidimos antes?
Escrevo apenas para ver meus dedos galopando teclas.
Digito na intenção de ver palavras que já sei.