Minha infância e meu horizonte
Era bem cedo e abriam-se as portas do segundo quarto do dia, no mesmo instante em que me banhava com a luz que chovia do sol matinal, inundando a relva suavemente com o seu calor.
Elegantemente, a grama da campina se apresentava barbaramente tosquiada e alinhada com aquele vestido de noivar, que lembrava as mais delgadas tramas do tear, costurado e chuleado sob os sonhos da madrugada, combinado harmoniosamente com belos e reluzentes brincos em forma de esferas formadas a partir das sensíveis gotas de orvalho.
Eu estava ali, calçando sandálias paragatas, usando calção feito de saco de estopa e camisa do tipo “volta ao mundo”, sobre o pequeno barranco e bem à beira daquela estrada sinuosa, recoberta de terra amarelada e demarcada por mourões e aceiros, rasgando a invernada. Minha alma viajava contemplando e perguntando aonde me levaria aquela estrada e quais as paragens que seriam retesadas na minha retina.
Nesse devaneio sem fim, meu olhar me levava até a linha do horizonte, no encontro do céu e da terra, que se juntavam para receber a estrada que serpenteando chegará como um filete. Lembro-me que em alguns momentos imaginava como seria o horizonte quando a sustentação do céu fosse o mar ao invés da terra. Mar que conhecia apenas de ouvir falar.
Lá vivia o horizonte da minha infância
Aqui vivo na infância do meu horizonte