R A Í Z E S
Gemiam em cadência,
irradiando energia,
os tambores do vodu.
Dançarinos de ébano,
suados,
acompanhavam o ritmo e os sons
da longínqua terra d’além mar...
Sob a luz incerta das tochas
resmungava soturno
negro Pai João...
___ “Zambi era um rei!
Era sim sô...
Sua C’roa ficou lá!
E a melancolia
velava o olhar cansado do negro
alforriado de direito mas,
sempre, um escravo
de fato.
As correntes do preconceito racial
prendiam seus pés,
suas mãos,
seu pescoço.
A luz das tochas colocava tons
de prata
na pele suada dos negros
dançarinos...
filhos de XANGÔ!
____ Saravá, meu PAI OXALÁ!
E o som de trovoadas
acompanhava o rítimo dos tambores...
___ “Sorri Negro,
mesmo que tua existência humana
esteja por um fio.
Abraça a dor da impotência
e faz dela teu escudo.
Ante a injustiça terrena
só há uma arma:
O DIREITO A TUA DIGNIDADE.
Aqueles que, teus irmãos de jornada,
sentem-se teus senhores...
Tenho-os aqui, todos,
na palma da mão,
ao teu lado,
não acima de ti...
Porque acima de ti
nem EU!
Fiz-te, ou não,
também minha imagem e
semelhança?
Quem o pode asseverar ou
desmentir?!
Reserva-te o direito
de
abdicares da liberdade humana
se ela relega-te
ao nível dos seres
rastejantes!
Levanta-te.
És digno.
Também, como eles,
és meu filho!
Aceita o abraço dos que
a ti enviei!”
E o Senhor do Bonfim
sorria,
transformando em ouro
as gotas de sangue
do negro PAI JOÃO!