M U T A N T E
A vida travou-me o sorriso,
desafinou as cordas da minha lira
e acordou-me na hora
do Lobo...
Na hora da caça!
Tempo de Lua-Cheia,
de Bruxas e Sextas-Feiras,
Meia-Noite, no coração
da Floresta!
Vampira-Loba, caçadora,
no cio...
sedenta de sangue humano,
quente,
com cheiro de vida,
derretendo o gelo
da hibernação forçada...
Uivando
para a lua...
gemendo de prazer!
Felina, carniceira...
Devora a presa,
apressada, num susto,
aos botes...
com medo de voltar atrás!
Gritam os Gnomos!
Cantam as Uyaras,
e as Salamandras
fosforescem
iluminando a hora
do trânsito de Vênus!
... E os olhos do meu
amado,
afiados, são dentes
de Jaguar do vale
mordendo meu coração!
Músculos tesos, leoninos...
Pelos dourados de
juba africana, voando ao vento Leste!
Metamorfose sem freios
correndo na pradaria
melodias rugindo,
pisando em minha emoção!
Orvalhou-me o corpo inteiro
gotas de prata e carmim
num ritual milenar
de prazer e agonia!
A pele caiu...
Já não é mais a fera,
só a fêmea ficou...
Ferida, agredida...
estuprada em sua fé!
O coração sangrando
rasgado por garras humanas,
desumana que é a
emoção do amor!
O dia amanheceu...
Passou a hora da
caça!
Não há mais Lua-Cheia!
No seio da terra dormem
bruxas e gnomos.
Tudo voltou a não ter véus...
nem magia!
Emudeceram as uyaras,
e vênus concluiu seu percurso no céu!
Boia agora, simulando modorrar
não o Lobo,
de caninos afiados e fortes,
cheio de paixão...
Mas, o temível e traiçoeiro
aligátor.
Carnívoro e impiedoso...
chorando pérolas de fogo
e sangue
na carne, ainda palpitante,
da vítima moribunda...
enquanto devora-lhe
as vísceras ensanguentadas!