GIGANTE MORIBUNDO
Eis que dorme o gigante
eternamente...
Enquanto as toupeiras
perfuram-lhe as veias
esvaziando-as do precioso
sangue NEGRO...
Não para salvar vidas!...
Esgaravatam-lhe
as entranhas, aves carniceiras,
catando,
uma a uma,
as vísceras
douradas...
Poluindo suas artérias
com o veneno mercuriano.
Caem labaredas no oxigênio
verde
de seus pulmões tropicais,
asfixiando-o
numa morte lenta e irreversível!
Sem um gemido
cai o povo heróico
aos milhares...
ressecados pela fome
sedentos de justiça
às margens
da dignidade humana...
Como as flores,
murcham às margens do rio
da vida...
ouvindo a agonia da “fauna
aquática”
em extinção!
E o sol,
livre enfim do escudo protetor,
dardeja o corpo do gigante
com garras mortais...
coloridas...
Numa festa macabra
de flores pútridas
sobre a pele exposta...
Mesmo assim...
Numa ânsia incomum
de viver e amar
ele estremece,
às vezes,
num soluço coletivo
de protesto ante
a carnificina mortal,
revolvendo-se
num pesadelo...
Acorda Gigante!
Ouves o rugido do mar?
Estão matando as baleias,
os delfins,
os leões marinhos...
Sobre ti,
não há mais “luz no céu profundo!”
Há fumaça negra
vinda dos teus pulmões carbonizados...
Agonizas, eu sei,
cadavérico,
faminto,
canceroso,
mas, ainda assim és belo...
e eu te amo...
com a alma e a vida!
Não é por amar-te
que derramo o suor do meu
corpo subnutrido...
em gotas de sangue...
trabalhando contente
para fortalecer-te?!
Não é por ser apaixonada
por ti, Gigante,
que procuro estruturar
as células do meu cérebro
cansado
para que sintas orgulho de mim?!
Não é por querer-te
livre e soberano
que submeto-me
às torturas do trabalho
escravo?!
Ah! como eu te amo!
Quisera algum bem-aventurado
ter, do meu amor,
ao menos o mínimo
do todo que te dou!
Desperta, amado...
Não deixes que
apaguem a tua luz!
O que será do
“NOVO MUNDO”
Sem a tua alegria...
sem o teu fulgor?...
Levanta-te
“IDOLATRADO”
destrói a “BESTA” que ri
enquanto agonizas
no berço, antes,
“ESPLÊNDIDO”!
Não quero que morras...
Eu te amo!
Te amo!
Amo...