Purgação do Espírito

*Não sabia em que categoria colocar*

Você aumenta o som no último. O grave das guitarras em harmonia com breakdowns alternados, reffis que explodem no peito com violência reciproca. Seu corpo vai incorporando coisas obscuras, sentimentos tardios, vozes de horror e desespero. Junto dos gritos seus medos e fraquezas começam a se manifestar nos guturais que saem como purgação das paixões violentas, destrutivas, que você convive como um demônio sob a pele. Quando começou ? Não se lembra. A adrenalina das pulsões faz o corpo inteiro agitar-se num fúria sem objeto. As veias se inflam, o olhar busca o inferno apenas, na face distorcida a imagem de Cérberus, que Urra! nos portões do Hades.

Você olha desconfiado para as chamas da própria raiva inflada, como um demônio que só vê seu reflexo por todos os lados, abocanha o ar lentamente com dentes imaginados cheios de baba, num som de serpente abafado e cortante que se engole para dentro. Você não sabe, mas Ele está em você! Expulse-o. Purgação das almas. Vozes, espectros em profunda angústia envolve toda aura do quarto, o corpo vibra num êxtase de loucura. Inclina a cabeça e rasga as emoções todas num grito de desesperança que despedaça todos os vermes que se mexem na carne fétida do espírito. Purifique-se! Alegria louca do excesso! O olhar para dentro, como encarnação da própria morte em vida. O ódio e a fraqueza que se encaram, de olhos vermelhos, como duas feras prontas para se comerem até a morte.

Seus dedos passam pela sua face como se quisessem arrancar a máscara de toda mentira do espírito. Socos se desferem contra a cabeça, um outro que não você dominou-te e você nem percebeu. É tarde, o ritual se completa quando a música acabar. Gritos de possessão, de desespero alucinógeno, parecem estremecerem todas as coisas. Catarse! Ah, maldita purificação. A única purgação real... (para mim)