A procura de mim

Há dias que por um tempo tudo parece caminhar bem, como se realmente a felicidade pudesse ser plena, e que o sentido da vida realmente se resumisse em algumas conquistas alcançadas nos últimos anos de sua vida. Mas há aqueles dias que a consciência do vazio cresce, e a perca em si e no turbilhão de sua própria mente são infinitas, e a única coisa que alivia é jorrar meio litro de palavras linha a fora...

Não no sentido de escrever porque se teve uma boa ideia, ou por ter tido aquela sacada reflexiva. Não, Não, mesmo! Simplesmente escrever, e quem sabe nas linhas perdidas de palavras mal colocadas, escritas sem pensar, sem conjugar corretamente, sem preocupar-se com o fluxo ou concordância, simplesmente dizer...

E nessa folha de dizeres mal escrito, quem sabe, talvez com uma baita sorte, encontrar algum sentido para o que se passa dentro desse coração vazio aqui dentro, mais que ainda bate.... e bate tão forte que estronda dentro de mim... que nos últimos anos, não tem encontrado inspiração nem mesmo para recortar e colar frases bonitinhas que são publicadas nas redes sociais.

Bom, a verdade é que as redes sociais tem sido outro problema para esse meu coraçãozinho... as pessoas estão imensamente preocupadas em publicar uma vida linda, feliz e cheia de conquistas, que aqueles que querem simplesmente responder aquela pergunta idiota que insisti de pular da tela de sua página do facebook “no que você está pensando?” Porra, se eu for escrever lá o que eu estou pensando.... bom, se escrevesse lá o que estou pensando não teria ninguém nem para chegar ao segundo parágrafo das minhas palavras mal colocadas e confusas e que no fundo só tem sentido pra mim, ou para uma meia dúzia de gatos pingados que também se sentem um João aquém da vida real que uma grande maioria compartilha, mas que pra nós, parece mais uma ficção criativa e ilusionista de uma dura realidade maquiada com alguns selfs bem tirados, algumas boas roupas de marcas, que provavelmente foram compradas em 6x sem juros no cartão de crédito. Impressões e opiniões a parte, não é sobre isso que pretendo escrever.

Na verdade, numa boa parte desses últimos dias, eu tenho tido uma dificuldade de escolher meus pensamentos, porque tenho vivenciado algumas coisas que me tiraram o foco! Digam aqui para mim, como pode adolescentes pré-vestibulistas saberem piamente o que querem, que curso fazerem, qual pos-graduação seguir, o mba que melhor o atende, etc. etc etc? É uma vida toda arquitetada... Caramba!!! Eu quase nos trinta ainda não consegui decidir a pós-graduação, e a faculdade que antes era do meu sonho, está compilada num simples papel dentro de uma gaveta, e agora caminho junto a uma cambada de adolescente numa faculdade nova, simplesmente para descobrir se esse novo curso que decidi cursar é realmente Aquele Curso, ou será que ainda tenho o que descobrir para me encontrar. Muito fácil decidir uma vida toda aos 18 anos sem antes ter contato com o que é caótico, sem antes conhecer o que existe dentro de si, sem antes dar espaço para suas interrogações. Fácil decidir quando não se conhece realmente, quando não tem acesso à arte, cultura, música, e algumas folhas em branco para você mesma construir algum sentido. Fazer cursinho na elite, fazer uma faculdade de direito, ostentar que decorou o vad mecum e passar num concurso público, pode até causar inveja em uma grande parte da população, mas sinceramente, inveja mesmo eu tenho de quem dança na chuva, de quem desistiu da faculdade e foi pintar quadros, de quem abondou a vida perfeita exigida e imposta pelos pais e estudou música, daqueles que vão para praça da cidade na quinta feira e brinca com os cachorros de rua, daqueles que vendem artesanatos e simplesmente pagam o café ao fim da tarde, daqueles que sentem intensamente, que amam sem limites, que vivem sem as migalhas de sua própria consciência, que sonham sem um chão em baixo dos pés... esses sim, tem minha admiração.

E acho que o vazio que tenho sentido nesses últimos dias é exatamente sobre isso. Ter perdido um pouco meu rumo. Colado chão demais para meus sonhos, ter escolhido demais o sonho ideal que deveria sonhar, ter decorado de mais os livros da faculdade, e lido de menos poesias, chorado de menos por não ter tido um cachorro na infância. Na verdade, por ter desconectado com o que ainda existe, mesmo que em sombra, quase desfalecida dentro de mim. É ter dado mais valor ao que as pessoas ao meu redor tem e valorizam do que realmente meu ser importa. É estar sonhando com uma vida que nem eu mesma sei se quero, mas sei que é o certo. É querer um emprego ao mesmo tempo que quero voltar estudar piano. É querer escolher uma pós graduação ao mesmo tempo que gostaria de aprender algo que eu nunca fiz. É não querer perder tempo com casa e limpeza, mas ter paz com o silêncio e ausência do mundo, e conseguir calar um pouco meus pensamentos.

Myrror
Enviado por Myrror em 10/02/2017
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