Casa do meu Cansaço
3 dias sem escrever fizeram acumular em minha subjetividade, mais cansaço do que todo cansaço que sinto da vida que vivo externamente, fisicamente. Meus pensamentos se não forem externados, com as cores cinza-amarelado e preto, (das quais sou mestre nos tons de graduação de tons, e também pintor de paisagens semi-vivas, do intermédio entre cor e não-cor, vida e não-vida) tornam-se sentido no peso do corpo, que sente apenas querer repousar na cama. Tudo isto se dá pelo peso do mundo que carrego dentro de minha mente. Não diria minha, pois Sou "outrado" pelo mundo, sou ficção, mas Sou-me pelo que imagino. Criador! E isto me assombrou:
Temo por mim às vezes se, por uma maldição do cosmo, me tornar incapaz de escrever, de esvair-me... Não sei porque pensei isso, mas foi-me um respaldo de impressão, como a alucinação de um acidente.
Um medo de perder o externo, e ficar preso dentro de si mesmo, sem as mãos para escrever.
Olho para o céu por entre os ferros empoeirados da janela como quem olha para coisa nenhuma, não vejo nem o céu de que falo nem os ferros. Tudo me parece junto numa mesma folha formando um quadro. É um olhar de quem não sabe para quê olha, vê apenas as linhas e as superfícies, o que vê não se sabe, o que procura não existe. Um franzir da fronte, de olhos que se contraem, o observar as nuvens que nada falam, nem significam, está tudo mudo e esquecido. Ah, que silêncio fatigoso que quase chega a ser nada!
Sinto-me aos poucos voltando-me a mim. Como se entrasse na imagem do espelho das coisas que me penso. E o cansaço de mim se transformando numa casa velha, esquecida e empoeirada, com teias de aranha por todos os lados, escura com poucos raios de luz que transpassam pelas madeiras carcomidas da janela. Não é tédio o que se sente, não é mais cansaço. É como fazer morada nele, e ser transfigurado em pura arte, só minha, numa paisagem de esquecimento, mas com um orgulho próprio de nada, que me torna mais vigoroso, por nada menos...
E não é estagnação o que sente: é um ar incerto de incerteza em todas as coisas, um autismo da mente que se hipnotiza pelo aspecto silencioso de si mesmo. Ouço! Mas não escuto. Passam corpúsculos de micro partículas de poeira por entre os fachos de luz, encantam-me como se fossem mundos inteiros girando dentro de mim. Faço imagens do vazio de mim com as imagens do meu cansaço, sento-me sozinho na poltrona velha das minhas imagens sonhadas e fico a contar estrelas, pois esqueci de mencionar que na casa de meu cansaço não há teto...
Senti falta de meus escombros, e das estrelas que não existem, de contar grãos de poeira...
Senti falta de me escrever sincera e mentirosamente...