Pássaro Raro
Pequeno pássaro que vi voando. Voava baixo querendo pouso. Um chão firme buscava e, nele, um repouso. Azas feridas? Eu perguntava, observando o voejar das tuas azas. Mas, Não! Era só impressão minha. Estava cansado apenas. Pura exaustão. Então fiz um abrigo. Preparei um pequeno ninho para chamar tua atenção. Queria lhe dar todo o meu carinho e a ti ofereci os meus cuidados. Fiz de ti pássaro raro diante dos meus olhares.
Mas, de longe, me observava e não quis aqui pousar. Desconfiou do meu ninho julgando ter nele espinhos e, por isso, não iria se arriscar. Alçou voo movido pela incerteza e desconsiderou todo o meu apreço. Duvidaste do meu apego por ti. E nem sequer quis insistir! Achou mais sensato voar e em outro lugar buscar descanso. Assim, se foi. Sem despedidas, sem delongas. Não olhou para trás, posto que nem notou minhas lágrimas. Que foram tantas!
Porém, há algum tempo eu soube do teu desalento. De que avistaste outro ninho e nele quis repousar. Porque ele tinha cheiro de flores. Folhas de muitas cores. Vasto de encanto e de doces sabores para te deslumbrar. Soube que sobre ele pairava e, com teus assobios, fazia longas serenatas. Por isso, gabava-se a dona do aprisco divulgando o tempo inteiro que ganhava o teu cortejo. Ela pensou que tu eras mesmo um pássaro raro, tal como eu te vejo. Soube que, ferido, fugiu dela e decidiu não mais voltar. Pois em grades e garras ela quis te aprisionar.
E agora o que queres por aqui sobrevoando? Não vê? Desfiz o ninho. Siga em frente em teu caminho. Ofendida fui por tua dúvida. Por isso, ignoro-te. Não quero saber da tua angústia. Então vá! Vá! Pois percebo que busca apenas um bálsamo para as tuas feridas. Todavia, oh! Pequeno pássaro! Se quisesses comigo repousar. Se quisesses para sempre aqui ficar. Por certo saberia que possuo um remédio para a tua dor. Sim, uma dose apenas. Mas que, de tão forte, às vezes arde, às vezes queima. Em razão de não ser tão doce o seu sabor. Tinha ele em mãos quando fiz de ti pássaro raro. Raro por oferecer-te o meu amor!