Fim de expediente!
Era uma vez, entre tantas outras vezes,
um balé de pernas apressadas,
atrasadas para o bonde, onde tantas outras estavam.
Escola, serviço, entrevista.
Na bolsa, a revista anti-tédio.
Na janela, o prédio pichado em dizeres,
protesto morto em tinta, manifesto.
O tropel seguia pelos viadutos,
invadia os escritórios, casas, hospitais,
esses tais vícios dos ofícios de vida.
A fome e a saída para o almoço,
prato feito, refeito todos os dias
e algumas fatias de pão para o arremate,
enquanto isso, o engraxate capricha no sapato,
observando o prato já quase desfeito.
Trocado, gorjeta, cafezinho
e o cadinho-mundaréu marcha de volta ao quartel.
Duplicata, contracheque, memorando,
conversa paralela, telefone tocando.
Fim de expediente!
Era uma vez, entre tantas outras vezes,
um balé de pernas apressadas,
atrasadas para o bonde, onde tantas outras estavam.
Casa, curso, faculdade.
Na expressão, cansaço de verdade.
Na mochila, sanduíche entre os cadernos,
em caso de emergêcia, retire o papel alumínio.
Quase impossível evitar o declínio do ânimo,
dormir na aula, romper a jaula e prisões da rotina.
De regresso, gravata e vestido postos a escanteio.
O pijama espera o recheio para o merecido recesso.
No esplendor do berço, um terço do dia será gasto,
sem ouvir o som do mar e a luz do céu profundo.
O sonho que se tem faz até cair da cama
e a noite de calor ensandecida,
se esvai com odor de inseticida.
De que vale o canto de um velho galo aposentado
contra o apito esganiçado do rádio-relógio?
Foi-se então o amontoado de penas ter com suas safenas.
Fim de expediente!