Dias de fome-sertão

Há dias que se passa fome,

há fome que se passam dias.

Sementes plantadas na noite, brotam crianças diariamente.

Solo dormente, trincado, mães secas, carregam suores e dores.

Olham o Nordeste, o cabra da peste.

Há noites em que se sonha sol; e amanhece o dia,

todos se mostram bronzeados.

Sertão afora vagueiam preces.

No corpo magérrimo, sem vestes,

se lavam peles de poeira.

Cactos sob o azul celeste;

em seus espinhos se penduram estrelas a noite. Repentes em vozes secas, ecoam por entre ossadas de vacas

que berravam um pedaço de pasto.

Fraquejaram sedentas na história de açudes que morreram.

Anjos dos sertões, de pés descalços,

com suas cítaras deixando som nos sulcos do chão, dos troncos,

da carne que a ferida brotou da caatinga.

Há gente que se passa brisa,

há brisa que se passa gente, porque

há dias que se passa fome

e há fome que se passam dias.

Takinho
Enviado por Takinho em 03/02/2017
Reeditado em 05/03/2021
Código do texto: T5901892
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