Sensação de morte
Canta um grilo em algum lugar que não vejo, escuto-o e fico a imaginar como deve ser a sensação de ser um grilo: vou diminuindo lentamente até sentir as casas enormes, e o buraco no qual canto, uma caverna gigantesca... mas parou. Abro os olhos. O silêncio permanece no ar como uma fatalidade envolvida no espaço como outra realidade, estática e eterna, vazia, uma certeza, no corpo-mente, do que é, como um espanto depois de saber que um próximo morreu: aquela surdez dos sentidos; e vai preenchendo todas as coisas, inclusive eu, com um aspecto que sobre nada se sabe, ignoto, irreconhecível, eternamente o mesmo...
Cortou-me o sonhar como corta foice a espiga, o cessar de repente do grilo por um instante me privou o fôlego, estava gostando tanto assim da minha ideia de não ser eu? Mas, por que assustei-me com a vida de todos os dias? Silêncio...
...pressentimento...
Luto?...
Passou, o silêncio agora é apenas ausência de som...
Volta o grilo a cantar...